O filme “Repórteres de Guerra”, dirigido por Steven Silver, é baseado no livro “The Bang Bang Club”, escrito por João Silva e Greg Marinovich, que, ao lado de Kevin Carter e Ken Osterbroek, são retratados no longa. “Repórteres de Guerra”, que pode ser encontrado no YouTube, conta a história dos quatro fotojornalistas que cobrem a guerra civil na África do Sul, no início dos anos 90, à época sob o regime do Apartheid.
As personagens principais têm o “simples” trabalho de fotografar os conflitos e vender as fotos para um determinado jornal local. Mas é realmente possível fotografar alguém morrendo ou que acabara de morrer e ficar indiferente a tal fato? Os conflitos internos pelos quais passam os fotógrafos, principalmente Kevin e Greg, são retratados na história, que tem a duração aproximada de 110 minutos.
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"Tocha Humana", foto que rendeu a Greg o Pulitzer de 1991
À primeira impressão, Kevin Carter,
interpretado por Taylor Kitsch, gosta de sair, se divertir com os amigos e aparenta
ser bem feliz. Mas a partir do momento em que o seu vício em drogas o prejudica
no trabalho, fica claro que ele precisa de ajuda. O vício em entorpecentes pode
ser considerado uma válvula de escape de Carter, que, apesar de acostumado a
fotografar “cenas fortes”, não se acostumou a conviver com tais memórias.
A triste situação do fotojornalista é
explícita a todos logo após Kevin ganhar o Prêmio Pulitzer. Sua foto,
intitulada “O Abutre”, em que a ave observa uma criança sudanesa prestes a
morrer de fome, o trouxe reconhecimento mundial. Mas também lhe trouxe tristeza,
precedida por diversas dúvidas.
A mídia passou a questioná-lo a respeito desua obra. Perguntas como “Você ajudou a criança?” “O que aconteceu com ela apósa fotografia?” “Ela ainda está viva?” o deixavam cada vez mais confuso. O próprio
autor da foto teria afirmado que “o homem ajustando suas lentes para capturar o
enquadramento exato daquele sofrimento poderia muito bem ser um predador, outro
urubu na cena”.
Já desesperado e vivendo “perseguido pela viva memória de matanças, cadáveres,
cólera e dor... pelas crianças famintas ou feridas... pelos homens loucos com o
dedo no gatilho, mesmo policiais, executivos assassinos...”, o fotógrafo toma uma decisão difícil.
Cheio de dívidas, sem dinheiro algum, sozinho
no carro e fazendo uma série de questionamentos sobre sua vida, Carter se
suicida. Em sua carta de despedida, relata o desejo de ter a sorte de se encontrar
com o amigo Ken Osterbroek, morto há pouco tempo em um dos conflitos da África
do Sul.
Além da questão racial, citada por um
personagem, que acusa os fotojornalistas (brancos) de ganharem dinheiro fotografando
o sangue dos negros, a ética jornalística também é bastante questionada. Como
saber o momento certo de fotografar? Como saber o momento de parar? Até que
ponto o fotógrafo deve continuar com seu trabalho “sujo”?
Essas e outras perguntas dificilmente serão respondidas.
Certo é que, enquanto não encontramos tais respostas, mais questionamentos do
tipo surgirão. Paralelamente, à medida em que as dúvidas vão surgindo, mais e
mais abutres seguem
se alimentando da carniça humana...
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