quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O mundo não anda chato, a publicidade é que anda (e sempre andou) preconceituosa

Após quase uma década, a Pepsi trouxe de volta os famosos limões falantes, que não apareciam em um comercial na televisão desde 2007. Na nova campanha publicitária, criada pela agência AlmapBBDO, Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho são os dubladores dos limões novamente. A propaganda, veiculada na TV e na internet, questiona “um mundo cheio de chatices, cheio de ‘não pode isso, não pode aquilo’”.


Talvez a Pepsi tenha razão. O racismo, o machismo e a homofobia deixaram o “mundo chato”. Talvez o negro, a mulher e o gay devessem continuar na senzala, na cozinha e no armário, respectivamente; para continuarmos vivendo em paz (afinal, antes do conhecimento desses termos, o mundo era perfeito). Talvez o “mimimi” desses grupos não tenha sentido. Talvez. Se estivéssemos em 1812. Talvez...


Arte do chargista Matheus Ribs                                                                               













Apesar de estarmos em 2016 e essas minorias terem cada vez mais voz, não apenas na internet, o preconceito ainda continua presente na publicidade. Seja ele de raça, gênero, opção sexual ou qualquer outro. O machismo, quesito indispensável em propagandas de cerveja, é veiculado em praticamente 100% das campanhas publicitárias de tal produto. Do “Vai, Verão” e “Vem, Verão”, da Itaipava ao “Esqueci o ‘não’ em casa”, da Skol. Todas elas têm como foco a objetificação da mulher.

A Pepsi, com “o mundo anda chato”, desmerece a luta de negros, mulheres, gays e outras minorias, que, diariamente, combatem o preconceito. A marca não entende que “agora, imagina se a gente fosse ligar para o que falam da gente!?” afeta todos esses grupos que nunca tiveram voz em nossa sociedade e os força a acreditar que devam aceitar calados tudo o que lhes é dito.


Em um mundo de Gentilis e Aquele Que Não Deve Ser Nomeados, pouca coisa tem nos surpreendido hoje em dia, é verdade. A maioria é que se surpreende ao fazer um comentário racista, machista ou homofóbico e logo ser retrucado, graças ao “mundo chato”. Mundo esse, que não anda chato. Ao contrário da publicidade, que anda e sempre andou preconceituosa.

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