Após mais de uma
década, foi lançado, via Spotiy, o tão aguardado álbum póstumo de Mauro Mateus
dos Santos. Com onze músicas, sendo três finalizadas ainda em vida, “Sabotage”
chegou ao conhecimento do público no último dia 17. O primeiro e único disco do
Maestro do Canão, “Rap é Compromisso”, vendeu quase dois milhões de cópias e é
um marco histórico no rap nacional.
E assim promete ser
seu novo álbum. Logo na primeira faixa, “Mosquito”, Sabota canta que “depois
que o homem inventou o revólver, todos corremos perigo”. Profeta ou não, o fato
é que, em 2003, ele foi atingido por quatro tiros e deixou, além de muita
saudade, letras que ainda soam atuais.
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"Sabotage" traz onze canções, sendo três finalizadas ainda em vida pelo rapper |
Como por exemplo:
“Pra quem nasceu na sul o sofrimento é evidência”. Os versos de “País da Fome (Homens Animais)” escancaram que a vida na Favela do Canão, assim como em todas
as outras comunidades do Brasil, é dura e continua como era treze anos atrás. A
letra, que começa com uma repórter noticiando sua morte, traz relatos pessoais
do Maestro do Canão, que chega a se emocionar em certo momento.
“Canão Foi Tão Bom” é
uma das músicas que foram parar na internet antes da divulgação do álbum. O
rapper lembra que “criança na periferia vive sem estudo e só”. Mas também
pondera que pra mesma aprender basta ter alguém que ensine. “Essa é a verdade,
criança aprende cedo a ter cárater, a distinguir sua classe. Estude, marque.
Seja um Martin, às vezes, um Luther King, um Sabotage”, canta.
“Respeito é Lei”
também chegou ao conhecimento do público antes que o álbum ficasse pronto.
Nela, Sabota faz diversas menções à Zona Sul e ao Brooklin, que como o próprio
diz é seu lugar. O bairro também é citado em “Superar”. No início do som,
“Brooklin Sul! Rest in peace, everytime!” abre a segunda faixa do disco. A voz
é de Shyheim, um dos membros do Wu-Tang Clan, uma das maiores influências de Maurinho,
como era carinhosamente chamado pelos mais íntimos.
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Sabotage também atacou de ator em filmes como "Carandiru" |
“Sabotage” também
traz referências da época. “Levada segura, bom filho da puta, sim! Um
entertainment! Mega como o Sonic! Fatality!”, refrão de “Levada Segura”,
explicita dois famosos jogos de videogame nos anos 2000: Sonic e Mortal Kombat.
O mesmo acontece em “O Gatilho”, que cita Tiazinha e Feiticeira, famosas
personagens sensuais no início do milênio.
Em “Sai da Frente”, o
rapper abre o som mencionando grandes parceiros do clássico “Rap é
compromisso”: Daniel Ganjaman e Tejo Damasceno, que, ao lado de Rica Amabis,
formavam o núcleo de produção Instituto. Outro amigo, Rappin Hood, um dos
responsáveis por tirar Sabota da vida do crime, canta em “Maloca é Maré”.
O diálogo entre os
dois, de certa forma, resume o álbum: “Essa base é boa. Isso mesmo, Sabotage.
Tá bom, tá aprovado. Certíssimo.” A amizade entre os rappers também é musicada:
“Samba com rap, nêgo, cê tá ligado. Como o Hood e Sabotage sempre andaram lado
a lado. A fusão perfeita, mais um gol de letra”, canta Rappin Hood.
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Mauro Mateus dos Santos: autor, intérprete, músico e versionista |
“Sou Sabotage, ou bem
ou mal, meu rap age.” “Brigar pra quê se agora é minha vez?”. Esses dois
trechos do último som do disco, “Míssil”, demonstram que Maurinho estava ciente
do momento que vivia. O sucesso já havia batido à sua porta e além de estar
envolvido na produção do próximo álbum, Sabota já estava atacando de ator nos
filmes “Carandiru” e “O invasor”.
No início dos anos
2000, o Maestro do Canão mandou o papo: “Quem viver verá, rap é o som, pode
chegar favela é um bom lugar”. O refrão de “Quem Viver Verá”, que conta com a
parceria de Dexter, mostra o quanto Maurinho estava à frente do seu tempo.
Rimas feitas uma década atrás, ainda continuam atuais. Seus versos mostram que,
daqui a 20, 30 anos, seu rap ainda fará parte do nosso cotidiano. Exemplos de
que Sabotage, assim como seu compromisso com o rap, é eterno.