segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Sabotage eterno: compromisso com o rap (ou Sabotage: eterno compromisso com o rap)

Após mais de uma década, foi lançado, via Spotiy, o tão aguardado álbum póstumo de Mauro Mateus dos Santos. Com onze músicas, sendo três finalizadas ainda em vida, “Sabotage” chegou ao conhecimento do público no último dia 17. O primeiro e único disco do Maestro do Canão, “Rap é Compromisso”, vendeu quase dois milhões de cópias e é um marco histórico no rap nacional.

E assim promete ser seu novo álbum. Logo na primeira faixa, “Mosquito”, Sabota canta que “depois que o homem inventou o revólver, todos corremos perigo”. Profeta ou não, o fato é que, em 2003, ele foi atingido por quatro tiros e deixou, além de muita saudade, letras que ainda soam atuais.

"Sabotage" traz onze canções, sendo três finalizadas ainda em vida pelo rapper


















Como por exemplo: “Pra quem nasceu na sul o sofrimento é evidência”. Os versos de “País da Fome (Homens Animais)” escancaram que a vida na Favela do Canão, assim como em todas as outras comunidades do Brasil, é dura e continua como era treze anos atrás. A letra, que começa com uma repórter noticiando sua morte, traz relatos pessoais do Maestro do Canão, que chega a se emocionar em certo momento.

“Canão Foi Tão Bom” é uma das músicas que foram parar na internet antes da divulgação do álbum. O rapper lembra que “criança na periferia vive sem estudo e só”. Mas também pondera que pra mesma aprender basta ter alguém que ensine. “Essa é a verdade, criança aprende cedo a ter cárater, a distinguir sua classe. Estude, marque. Seja um Martin, às vezes, um Luther King, um Sabotage”, canta.

“Respeito é Lei” também chegou ao conhecimento do público antes que o álbum ficasse pronto. Nela, Sabota faz diversas menções à Zona Sul e ao Brooklin, que como o próprio diz é seu lugar. O bairro também é citado em “Superar”. No início do som, “Brooklin Sul! Rest in peace, everytime!” abre a segunda faixa do disco. A voz é de Shyheim, um dos membros do Wu-Tang Clan, uma das maiores influências de Maurinho, como era carinhosamente chamado pelos mais íntimos.

Sabotage também atacou de ator em filmes como "Carandiru"












“Sabotage” também traz referências da época. “Levada segura, bom filho da puta, sim! Um entertainment! Mega como o Sonic! Fatality!”, refrão de “Levada Segura”, explicita dois famosos jogos de videogame nos anos 2000: Sonic e Mortal Kombat. O mesmo acontece em “O Gatilho”, que cita Tiazinha e Feiticeira, famosas personagens sensuais no início do milênio.

Em “Sai da Frente”, o rapper abre o som mencionando grandes parceiros do clássico “Rap é compromisso”: Daniel Ganjaman e Tejo Damasceno, que, ao lado de Rica Amabis, formavam o núcleo de produção Instituto. Outro amigo, Rappin Hood, um dos responsáveis por tirar Sabota da vida do crime, canta em “Maloca é Maré”.

O diálogo entre os dois, de certa forma, resume o álbum: “Essa base é boa. Isso mesmo, Sabotage. Tá bom, tá aprovado. Certíssimo.” A amizade entre os rappers também é musicada: “Samba com rap, nêgo, cê tá ligado. Como o Hood e Sabotage sempre andaram lado a lado. A fusão perfeita, mais um gol de letra”, canta Rappin Hood.

Mauro Mateus dos Santos: autor, intérprete, músico e versionista















“Sou Sabotage, ou bem ou mal, meu rap age.” “Brigar pra quê se agora é minha vez?”. Esses dois trechos do último som do disco, “Míssil”, demonstram que Maurinho estava ciente do momento que vivia. O sucesso já havia batido à sua porta e além de estar envolvido na produção do próximo álbum, Sabota já estava atacando de ator nos filmes “Carandiru” e “O invasor”.

No início dos anos 2000, o Maestro do Canão mandou o papo: “Quem viver verá, rap é o som, pode chegar favela é um bom lugar”. O refrão de “Quem Viver Verá”, que conta com a parceria de Dexter, mostra o quanto Maurinho estava à frente do seu tempo. Rimas feitas uma década atrás, ainda continuam atuais. Seus versos mostram que, daqui a 20, 30 anos, seu rap ainda fará parte do nosso cotidiano. Exemplos de que Sabotage, assim como seu compromisso com o rap, é eterno.

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