terça-feira, 23 de agosto de 2016

Dias de luta, dias de glória

Por trás da glória pelas medalhas conquistadas por Rafaela Silva, Robson Conceição, Thiago Braz e outros medalhistas estão histórias de luta e superação que só chegam ao nosso conhecimento após o êxito desses atletas durante as Olimpíadas. Histórias que talvez pudessem ser evitadas se não nos interessássemos por judô, boxe e salto com vara apenas de quatro em quatro anos.

E além de nos interessarmos somente nesse período, exigimos que esses e outros esportes nos deem medalhas, não importa o quão nossos atletas tenham sofrido para estar ali ou que os adversários sejam potências olímpicas e nomes certos no pódio. Mesmo sabendo da importância de uma conquista olímpica para o país e o atleta, principalmente, não investimos nessas modalidades.

Nosso primeiro ouro na Rio 2016 veio de Rafaela Silva. A judoca negra, pobre e Silva que é a cara do Brasil. A menina da Cidade de Deus que, há quatro anos, na Olimpíada de Londres, foi desclassificada após a tentativa de um golpe irregular logo em sua estreia. Sua derrota foi seguida de comentários racistas e ignorantes direcionados à sua pessoa nas redes sociais.








Rafaela sentiu o golpe e ficou abalada, precisando ser convencida a voltar a treinar. Mas após muita dedicação e garra, a “macaca que não deveria estar nas Olimpíadas e sim na jaula” (sim, essa foi uma das barbáries que a judoca foi obrigada a ler em seu twitter), deu a volta por cima e se tornou campeã olímpica de judô, fazendo questão de lembrar a todos que “o macaco que tinha que estar na jaula em Londres, hoje é campeão olímpico em casa”.

Judoca Rafaela Silva exibe com orgulho seu ouro olímpico conquistado na Rio 2016
















Robson Conceição se tornou o primeiro brasileiro campeão olímpico de boxe ao vencer o francês Sofine Oumiha por decisão unânime (3x0) dos juízes. O pugilista de Salvador que viu no esporte a chance de aprimorar seus golpes para brigar durante o carnaval baiano, passou por duras decepções em Olimpíadas anteriores. Nos Jogos de Pequim 2008 e Londres 2012, foi eliminado logo nas primeiras lutas. Mas antes que o juiz encerrasse a contagem regressiva de sua carreira, Robson se levantou e determinado, chegou ao topo do esporte, se tornando o maior boxeador olímpico do Brasil.

Thiago Braz, o menino que, de mochila nas costas, ia para o portão esperar para que sua mãe voltasse para lhe buscar, hoje carrega algo valioso em suas bagagens: o inédito ouro olímpico no salto com vara. Criado pelos avós paternos, em Marília, começou no atletismo aos treze anos graças ao tio Fabiano Braz, que foi decatleta. Um ano depois, representou a cidade nos Jogos Regionais. Ou melhor, representaria, caso não tivessem esquecido de inscrevê-lo na competição.

Após superar a falta de varas para treinar no interior de São Paulo, o atleta se mudou para Bragança Paulista e chegou a dormir no chão do alojamento. Aos quinze anos, conquistou o bronze sul-americano juvenil e aos dezoito, já quebrava recordes e deixava de ser promessa para se tornar realidade no esporte. Um casamento, uma fratura na mão e uma mudança para a Itália depois, Thiago chegou ao ápice na modalide e pretende alçar vôos ainda mais altos.

Ainda no ar, Thiago Braz já comemora histórico ouro olímpico após saltar 6,03m
















Apesar de todas as dificuldades, esses e outros atletas como os canoístas Isaquias Queiroz e Erlon Souza e as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze mostraram ao Brasil que o país do futebol também pode ser o país da canoagem ou o país da vela. Após muitos dias de luta, esses atletas viveram dias de glória nas Olimpíadas, com as medalhas de ouro, prata e bronze no peito. Mas o sonho, do qual Robson não quer acordar, acaba no momento em que a Rio 2016 chega ao fim e os campeões se lembram que terão mais 1460 dias de luta para que possam ter a chance de alcançar os desejados dias de glória em Tóquio 2020.

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