Por trás da glória
pelas medalhas conquistadas por Rafaela Silva, Robson Conceição, Thiago Braz e
outros medalhistas estão histórias de luta e superação que só chegam ao nosso
conhecimento após o êxito desses atletas durante as Olimpíadas. Histórias que
talvez pudessem ser evitadas se não nos interessássemos por judô, boxe e salto
com vara apenas de quatro em quatro anos.
E além de nos
interessarmos somente nesse período, exigimos que esses e outros esportes nos deem medalhas, não
importa o quão nossos atletas tenham sofrido para estar ali ou que os
adversários sejam potências olímpicas e nomes certos no pódio. Mesmo sabendo da
importância de uma conquista olímpica para o país e o atleta, principalmente,
não investimos nessas modalidades.
Nosso primeiro ouro
na Rio 2016 veio de Rafaela Silva. A
judoca negra, pobre e Silva que é a cara do Brasil. A menina da Cidade de
Deus que, há quatro anos, na Olimpíada de Londres, foi desclassificada após a
tentativa de um golpe irregular logo em sua estreia. Sua
derrota foi seguida de comentários racistas e ignorantes direcionados à sua
pessoa nas redes sociais.
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Rafaela
sentiu o golpe e ficou abalada, precisando ser convencida a voltar a treinar.
Mas após muita dedicação e garra, a “macaca que não deveria estar nas
Olimpíadas e sim na jaula” (sim, essa foi uma das barbáries que a judoca foi
obrigada a ler em seu twitter), deu a volta por cima e se tornou campeã
olímpica de judô, fazendo questão de lembrar a todos que “o
macaco que tinha que estar na jaula em Londres, hoje é campeão olímpico em casa”.
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Judoca Rafaela Silva exibe com orgulho seu ouro olímpico conquistado na Rio 2016 |
Robson Conceição se
tornou o primeiro brasileiro campeão olímpico de boxe ao vencer o francês
Sofine Oumiha por decisão unânime (3x0) dos juízes. O pugilista de Salvador que
viu no esporte a chance de aprimorar seus golpes para brigar durante o carnaval
baiano, passou por duras decepções em Olimpíadas anteriores. Nos Jogos de
Pequim 2008 e Londres 2012, foi eliminado logo nas primeiras lutas. Mas antes
que o juiz encerrasse a contagem regressiva de sua carreira, Robson se levantou
e determinado, chegou ao topo do esporte, se tornando o maior boxeador olímpico
do Brasil.
Thiago Braz, o menino
que, de mochila nas costas, ia para o portão esperar para que sua mãe voltasse
para lhe buscar, hoje carrega algo valioso em suas bagagens: o inédito ouro
olímpico no salto com vara. Criado pelos avós paternos, em Marília, começou no
atletismo aos treze anos graças ao tio Fabiano Braz, que foi decatleta. Um ano
depois, representou a cidade nos Jogos Regionais. Ou melhor, representaria,
caso não tivessem esquecido de inscrevê-lo na competição.
Após superar a falta
de varas para treinar no interior de São Paulo, o atleta se mudou para Bragança
Paulista e chegou a dormir no chão do alojamento. Aos quinze anos, conquistou o
bronze sul-americano juvenil e aos dezoito, já quebrava recordes e deixava de
ser promessa para se tornar realidade no esporte. Um
casamento, uma fratura na mão e uma mudança para a Itália depois, Thiago
chegou ao ápice na modalide e pretende
alçar vôos ainda mais altos.
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Ainda no ar, Thiago Braz já comemora histórico ouro olímpico após saltar 6,03m |
Apesar de todas as dificuldades,
esses e outros atletas como os canoístas Isaquias Queiroz e Erlon Souza e as
velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze mostraram ao Brasil que o país do
futebol também pode ser o país da canoagem ou o país da vela. Após muitos dias
de luta, esses atletas viveram dias de glória nas Olimpíadas, com as medalhas
de ouro, prata e bronze no peito. Mas
o sonho, do qual Robson não quer acordar, acaba no momento em que a Rio
2016 chega ao fim e os campeões se lembram que terão mais 1460 dias de luta
para que possam ter a chance de alcançar os desejados dias de glória em Tóquio
2020.
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