quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A PM, no Brasil, mata mais do que o Ebola

81 tiros de fuzil no futuro do Brasil
Cadê a justiça?
Ninguém sabe
Ninguém viu

Cleiton Corrêa
Carlos Eduardo
Roberto de Souza
E os irmãos Wilton Esteves e Wesley Castro

Cinco jovens fuzilados
Cinco famílias abaladas
Cinco sonhos acabados
Cinco vidas ceifadas

81 tiros de fuzil
E 30 de pistola
A PM no Brasil
Mata mais do que o Ebola

Justificando violência
Forjando auto de resistência
Mudando a cena do crime
“Boa! Mais uma vitória do time!”

O time dos covardes
O time dos assassinos
Que interrompem os sonhos
De homens e meninos

Seja na favela
Seja no asfalto
“Mãos ao alto!”
“É um assalto?”

“Não, não é um assalto
Aqui é a polícia
Vira de costas
Você vai virar notícia”

Você virou notícia
Entrou pra estatística
Morreu pela polícia
Aclamada pela classe artística

Não será mais lembrado
Na TV nem no jornal
Pois amanhã outro jovem
Será a nova vítima fatal

Quando ele menos esperar
Sua cabeça irá encontrar
Balas atiradas a curta distância
“PM assassina” já virou redundância

A polícia que mais mata no mundo
Mata inocente, mata “vagabundo”
Mata preto, mata branco
Mata mais que assaltante de banco

Seja de fuzil
Seja de pistola
A PM no Brasil
Mata mais do que o Ebola


Bandeira do Brasil "fuzilada" representando os 81 tiros de fuzil e 30 de pistola que mataram os jovens cariocas em Costa Barros

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Eduardo e “a letra de rap mais perfeita já criada”

“Quem sabe se eu tivesse menos melanina”: já no primeiro verso, Eduardo traz à tona o maior problema da adoção no Brasil: a questão racial. Ainda que o número de interessados em adotar apenas crianças brancas tenha caído, os dados ainda são alarmantes.

“Há sete anos, vegeto no depósito dos rejeitados, desde que me encontraram dentro de um saco plástico”: Assim como muitas crianças que vivem em abrigos, Eduardo também foi encontrado em um saco plástico.

“Mesmo sem alimentar a balística com FAMAS, fui condenado aos traumas do abandono de incapaz”: segundo a Wikipédia, “balística é a ciência que estuda o movimento dos projéteis, especialmente das armas de fogo, seu comportamento no interior destas e também no seu exterior, como a trajetória, impacto, marcas, explosão, etc., utilizando-se de técnicas próprias e conhecimentos de física e química, além de servir a outras ciências”. FAMAS é um rifle francês e significa “Fuzil de Assalto da Manufatura de Armas de Santa Ettiene”. Mesmo não tendo relação alguma com armas, Eduardo foi mais uma vítima do artigo 133 do Código Penal.

“Não tô incluso nos dados sobre adotado pretendido, o ‘x’ é na cor branca e no cabelo liso”: 29% dos pretendentes só aceitam adotar crianças brancas.


“Casal de boy não quer tá no restaurante jantando, com polícia colando, achando que é sequestro relâmpago. De ir no shopping explicar pro segurança seguindo: ‘o menino negro tá comigo, não é bandido, é meu filho’”: você se lembra do caso do menino de 7 anos vítima de racismo numa concessionária no Rio de Janeiro, não se lembra?! Após o episódio, os pais do garoto criaram a página “Preconceito racial não é mal-entendido” no Facebook.


Página criada pelos pais do garoto logo após o "mal-entendido"                          










“No máximo eu consigo ser apadrinhado por um doador que dá pra ONG alguns centavos. Pro bebê loiro é adoção, direito à infância. Pro neguinho, colaborador mensal à distância”: muitas das crianças que vivem em abrigos são apadrinhadas, recebendo doações mensais. Na maioria das vezes, são crianças que possuem poucas chances de serem adotadas.

“O meu perfil afro só é da hora pra elite em companhia da Madonna ou do Brad Pitt”: dois famosos, que estão sempre em evidência, com filhos adotivos negros.

“Pelo ECA, meu martírio tinha que ser temporário, não a porra de um vitalício calvário”: no primeiro verso da segunda estrofe, Eduardo trata do artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que diz: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. Apesar de gozar dos direitos do ECA, o sofrimento de Eduardo parece nunca ter fim, é vitalício.

“Em média, em um ano, um vira lata deixa o instituto de zoonoses e ganha uma casa. Sociedade se preocupa com bem estar de cachorro, mas que se foda se o preterido aqui tá vivo ou morto. Que se foda se ele tá nutrido, sente frio, se tá fazendo curso preparatório pra fuzil”: P - E - S - A - D – O!!!


“Cansei de ver as Pajero se afastando do jardim, levando aqueles que chegaram bem depois de mim”: nessa parte, fica explícito que, quem adota, em sua maioria, tem uma ótima condição financeira. Provavelmente branco adotando criança branca, que, mesmo chegando ao abrigo bem depois de Eduardo, é adotada pelo simples fato de ser branca.


Dados de março de 2013 mostram a ótima condição financeira de quem adota  






















“Talvez minha mãe era outra adolescente grávida engrossando a estatística vergonhosa da pátria. Outra de libido sexual despertado pela televisão que põe criança no pancadão, descendo até o chão”: em 2011, 25 mil meninas entre 10 e 14 anos deram à luz e 440 mil jovens entre 15 e 19 anos tiveram gravidez indesejadas.

“É foda só saber o que é higiene, carinho e sorriso quando um promotor de justiça visita o abrigo. Pro alvará de funcionamento não ser cassado, nessa data, dão banho, perfumam e até dão afago”: Eduardo alerta sobre as más condições em que muitas crianças vivem nos abrigos.

“Sou candidato a tá na cracolândia com a pele marcada pelo selo de qualidade da Fundação Casa. Quem não recebe sobrenome no RG, ganha artigos 121 no DVC”: sem o apoio e o sobrenome da família (biológica ou adotiva) no RG, sem qualquer expectativa de vida, há uma grande possibilidade de Eduardo entrar para o mundo do crime. O jovem pode cumprir pena na Fundação Casa até os 18 anos e após, ganhar artigos 121 (matar alguém) no DVC (Divisão de Vigilância e Captura).

“A mina que, depois de gozar, cê mete o pé no rabo, pode carregar no ventre o próximo desamparado”: ...

“Eu me sinto um produto descartável dispensado no depósito dos rejeitados. Esperando alguém pra chamar de pai, esperando alguém pra chamar de mãe”: só o refrão já bastaria pra entender a mensagem que Eduardo quer passar, mas ele vai além. A cada estrofe, impressiona e emociona ainda mais o ouvinte.

Apesar de todos os versos e os casos citados, muitos acreditam na ideia de que não existe racismo no Brasil. O próprio Senado Federal, com o texto “Racismo na adoção é mito nacional”, é um exemplo de como querem diminuir a luta contra o preconceito racial no país. É, Eduardo tem razão: “O homem estragou tudo...”


Assista ao clipe de “Depósito dos rejeitados”, lançado nesta quinta (5).


terça-feira, 29 de setembro de 2015

"Ex-BBB" não é profissão

Desde o fim do primeiro Big Brother Brasil em 2002, o termo “ex-BBB” é usado de forma pejorativa por críticos intencionados a denegrir os participantes. Até mesmo a mídia, que publica o dia a dia dos brothers antes, durante e depois do reality show, usa de má fé ao citar tal termo. Criticado por pseudo-intelectuais que dizem que a atração não acrescenta nada à vida das pessoas, o BBB é um programa de entretenimento.

Ou seja: não tem a função de deixar o telespectador mais “culto” – lembrando que cultura não é somente aquilo que você gosta – ou mais inteligente. Quem assiste ao programa, o assiste como um passatempo, para dar risadas e para se divertir vendo uma dúzia de desconhecidos fazendo atividades que quase todos os brasileiros fazem diariamente, como tomar banho e almoçar/jantar.

Após o término do programa, diversos participantes investem em carreiras artísticas. E seja atuando em novelas, apresentando programas, dentre outras maneiras, conseguem se manter em evidência na mídia. Sabrina Sato, GraziMassafera e Jean Wyllys são três exemplos de brothers que continuam sendo pautas até hoje.

O campeão do quinto BBB talvez seja a maior vítima do termo pejorativo. Eleito deputado federal em 2010 e reeleito em 2014, Jean é sempre atacado nas redes sociais por ser um dos mais atuantes parlamentares na defesa dos direitos humanos, especialmente em relação à causa LGBT. Jornalista com mestrado em Língua e Linguística, professor e escritor, Wyllys recebe frequentemente a alcunha de “ex-BBB” por aqueles contrários à sua posição política.
                             
Vice-campeã da edição que teve Jean Wyllys como vencedor, Grazi Massafera hoje é atriz na Globo. Após diversos trabalhos em novelas desde 2006, seu papel mais recente foi em Verdades Secretas, novela das onze que se encerrou na última sexta-feira. Na oportunidade, deu vida a Larissa, modelo viciada em crack.


Bastante elogiada durante o folhetim, Grazi mostrou aos telespectadores todo o seu talento, provando que não deve ser taxada de “ex-BBB”. Diversas passagens marcantes de Verdades Secretas foram protagonizadas por ela. Após cena em que sua personagem sofre um estupro coletivo, o público “pediu” o Oscar para a atriz.


Larissa (Grazi Massafera) após sofrer estupro coletivo em Verdades Secretas














Sabrina Sato, participante do terceiro BBB, fez parte da equipe do Pânico na rádio e na televisão por dez anos. No humorístico, fazia a “inovadora” linha da gostosa burra. Hoje, contrariando as expectativas dos que a viam apenas como o estereótipo do Pânico, está à frente do Programa da Sabrina, na Rede Record.
                                                                                      
Outro grande exemplo a ser citado é Fernando Fernandes, que participou da segunda edição do reality show. Após sofrer um acidente de carro que o deixou paraplégico em 2009, o modelo encontrou na paracanoagem a sensação de liberdade que havia perdido. Ainda naquele ano, o atleta teve o primeiro contato com a modalidade, que o consagraria mundialmente anos mais tarde. Desde que passou a disputar as competições na paracanoagem, Fernando vem conquistando grandes títulos.

Atualmente, é tricampeão sulamericano, tetracampeão mundial, bicampeão panamericano, pentacampeão brasileiro e campeão da Copa do Mundo. Mais do que isso, também é um campeão fora das águas. Mantém o Instituto Fernando Fernandes Life, onde oferece aulas de canoagem e outras atividades físicas para crianças com e sem deficiência física e seus familiares.


Portanto, é extremamente fútil e desnecessário se referir a esses e outros brothers como “ex-BBB” com a intenção de denegrí-los. Todos provaram que possuem talento e que seus 15 minutos de fama podem e devem durar muito mais que uma simples formação de paredão ou uma prova do líder. Aos pseudocults, caso ainda não saibam, existe algo criado há mais de cinco décadas que, basicamente, é utilizado quando não se quer ver algo na telinha: controle remoto. Basta mudar de canal ou desligar a tv que o problema está resolvido. Simples assim.


O tetracampeão mundial de paracanoagem Fernando Fernandes

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Para que ou para quem serve um Pan

Encerrados no último dia 26, os Jogos Pan-Americanos de 2015, realizados na cidade de Toronto, no Canadá, foram duramente criticados pela revista Veja em recente artigo. Alexandre Salvador é infeliz na sua colocação ao desmerecer os 590 atletas brasileiros utilizando-se do argumento de que alguns países (Brasil, inclusive) não enviaram seus principais nomes para competição.

O autor, porém, se esquece dos recordes que poderiam ser (e foram) quebrados em Toronto; assim como menospreza as histórias de luta e superação de nossos competidores citados no texto da Rede Record, detentora dos direitos de transmissão dos Jogos, como resposta à revista.

Respondendo à Veja, o Pan serve para incentivar às crianças e aos adolescentes do nosso país, que sem perspectiva alguma de futuro, vêem no esporte uma chance para mudar de vida. O Pan serve para recompensar os atletas brasileiros, que, sem quaisquer incentivo ou patrocínio do Comitê Olímpico do Brasil (COB), conseguiram chegar à competição, muitas vezes gastando o próprio dinheiro. O Pan serve para premiar nossos competidores, que tiveram uma infância difícil e tendo o esporte como seu salvador, levaram a bandeira verde e amarela ao lugar mais alto do pódio em Toronto.

O Pan serve para o nadador Thiago Pereira, que se tornou o maior medalhista da história dos Jogos Pan-Americanos, com 23 medalhas; para Etiene Medeiros, que conquistou o primeiro ouro da história da natação feminina; para Tiago Camilo, judoca tricampeão pan-americano; para Yane Marques, do pentatlo moderno, bicampeã pan-americana; para Marcel Stürmer, tetracampeão pan-americano na patinação artística

O Pan serve para Ana Sátila, ouro no C1 da canoagem, o primeiro da história da modalidade feminina no Brasil; para amigos e familiares desses e de todos os quase 600 atletas que vibraram ao vê-los emocionados com a medalha no peito; para milhares de brasileiros que se orgulharam ao ouvir o hino nacional sendo tocado e cantado com louvor pelos nossos competidores no alto do pódio.

O Pan serve para que tenhamos cada vez mais Thiagos, Etienes e Yanes no noticiário esportivo e menos Eduardos no noticiário policial. Quanto à Veja, sigamos tentando descobrir para que serve (ou desserve) tal revista.



Isaquias Queiroz, dois ouros e uma prata no Pan, após a perda de um rim e sequestro

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Lições aprendidas com a violência da PM no Paraná

A repressão do governador Beto Richa e a Polícia Militar do Paraná aos professores contrários ao projeto de lei que altera a previdência estadual, nos deu uma aula com exemplos concretos que não vemos na escola.

Aula de Matemática:
- 200 feridos por balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio, sprays de pimenta e jatos d’água.
- 17 policiais presos por recusa a participar do cerco aos professores.

Aula de História:
- Em 30 de agosto de 1988, professores em greve foram recebidos pela cavalaria da polícia militar, cães e bombas de efeito moral. O hoje senador, Alvaro Dias (PDSB), era o governador do Paraná. Até então, era a pior repressão já vivida no estado.

Aula de Química:
- O gás lacrimogênio, do latim lacrima, trata-se de um grupo de compostos de propriedades, como seu próprio nome sugere, capazes de irritar a pele e tecidos sensíveis, como os olhos. Quimicamente, o gás CS, abreviatura para clorobenzilideno malononitrilo, é um exemplo.
- De custo mais baixo, o spray de pimenta está entre os mais populares. Outros compostos também podem ser utilizados para esse fim, como o cloro-acetona e o bromo-acetona.

Aula de Português:
- Confronto: ato ou efeito de confrontar, comparar, cotejar, confrontação, comparação.
- Massacre: ação ou efeito de massacrar. Carnificina, chacina, matança. Execução desajeitada, insegura.

Professores acostumados a ensinar foram ensinados a se acostumar com a repressão policial que ocorre frequentemente em manifestações por todo o Brasil. De norte a sul, de leste a oeste, a polícia usa de força excessiva para coagir os que lutam por seus direitos.


Com exceção dos 17 policiais que se recusaram a participar do cerco aos manifestantes, o restante dos militares merece nota 0 por agredir aqueles que lhes ensinaram o caminho correto para tirar nota 10 na escola e principalmente na vida.



Foto: Paulo Lisboa                                                                           

terça-feira, 7 de abril de 2015

Ser jornalista, ser “jornalista” e ser humano

Hoje, 7 de abril, é comemorado o Dia do Jornalista. Instituída pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa), a data homenageia o médico e jornalista Líbero Badaró. Vindo da Itália em 1826, três anos mais tarde, fundou o periódico Observador Constitucional, no qual denunciava o abuso de poder do Império, à época de D. Pedro I. Badaró foi morto por inimigos políticos em São Paulo em 22 de novembro de 1830. O movimento popular gerado por sua morte levou à abdicação de D. Pedro I no dia 7 de abril de 1831. Um século depois, em 1931, 7 de abril foi instituído como o Dia do Jornalista.

Antes de mais nada, é preciso entender a diferença entre ser jornalista e ser “jornalista”. Ser jornalista não é considerar compreensível a atitude de justiceiros ao amarrarem um menor de idade em um poste. Isso é ser “jornalista”. Ainda mais quando sua fala, em rede nacional, provoca mais casos de “justiça com as próprias mãos” em todo o Brasil. Ou quando, decorrente de um boato na internet, uma mulher é linchada e morre após ser acusada de seqüestrar crianças para utilizá-las em ritual de magia negra.

Ser jornalista não é apresentar um programa de televisão de cueca. Isso é ser “jornalista”. Para um programa tão sensacionalista quanto o “Brasil Urgente”, que vive de explorar a desgraça alheia (inclusive com imagens de mortos como se fossem lixo), aparecer de cueca em rede nacional é mero detalhe. Acusar sem provas e distorcer os fatos afim de ter audiência é o objetivo de Datena e sua trupe, que já conquistou seu espaço na televisão brasileira há anos.

Ao afirmar que “o homem é o lobo do homem”, Thomas Hobbes nos propõe uma reflexão: sendo o jornalista um formador de opinião, ele deve expor o seu pensamento em um veículo de comunicação, mesmo que esse gere conseqüências graves como os casos de “justiça com as próprias mãos” ocorridos em 2014?


Sabendo que temos desejos e necessidades semelhantes e que é natural o conflito entre nós, o jornalista deve se lembrar que mais vale uma noite bem dormida do que uma noite com insônia pensando em como explorar a desgraça alheia no dia seguinte e atingir a liderança na TV.




Foto: Reprodução

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Não, Eduardo. Amanhã não será melhor...

Eduardo de Jesus Ferreira. Dez anos de idade. Negro. Morador do Complexo do Alemão. Apenas mais um a entrar na estatística. Apenas mais uma vítima da PM covarde. Apenas mais uma vítima do sistema. Apenas mais uma criança que tem seus sonhos interrompidos graças à repressão policial que ocorre diariamente nas favelas.

Nesta quinta feira, 2, Eduardo foi brutalmente assassinado por um policial militar do batalhão de choque da PM. O garoto foi baleado na cabeça na porta de sua casa e morreu imediatamente.

Eduardo não é o primeiro e nem será o último a ser assassinado na favela. Frequentemente (quando a mídia julga necessário), se tem notícia de que a Polícia matou inocentes (em sua maioria negros e jovens) apenas e unicamente pelo fato de serem moradores da favela. Quem não se lembra do caso de Alan de Souza Lima? O jovem de 15 anos teve sua morte filmada pelo próprio celular na Favela da Palmeirinha.

Quantos Eduardos e Alans precisam ser mortos diariamente para deixarem de ser apenas estatísticas? Quantos Eduardos e Alans precisam ser mortos diariamente para virarem notícias? Quantos Eduardos e Alans precisam ser mortos diariamente para discutirmos a desmilitarização da Polícia? Dia após dia, nossa PM se mostra racista e preconceituosa e ninguém se importa, pois essas mortes já se tornaram comuns aos nossos olhos. A morte do negro na favela deixou de ser notícia e passou a ser fato.

Segundo sua mãe, Terezinha, Eduardo sonhava em ser bombeiro e ajudar o próximo. Ironicamente morreu vítima de quem deveria sempre nos estender a mão. Triste pensar que, na dúvida entre atirar ou não no negro, a Polícia sempre opta pela primeira opção. Lamentável ver que nosso País só anda para trás, vide a PEC que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. Impossível sonhar com um futuro melhor diante de tanta injustiça e covardia.

Vá em paz, Eduardo. Vá iluminar aqueles que direta ou indiretamente são o culpado de sua partida. Peça muita luz e paz à caminhada desses, pois são os que mais precisam. Por aqui, continuaremos esperando que amanhã seja melhor. Prometo. Mas não hoje, Eduardo. Amanhã, infelizmente não será melhor.



Imagem: Larissa Campos